Criticaria

Um compêndio de crítica literária dedicado aos volumes esquecidos, inusitados, famigerados ou obliterados de bibliografias oficiais, encontrados em minha viagem de dois anos por cinco continentes.

20.1.05

La peggior prova, de Adamo Giacomelli (Itália, 1984)

Nem todos os livros de minha coleção são bons. Este livro, por exemplo, é a melhor prova disso. Aliás, vai ser difícil me conter em relação aos trocadilhos com o título deste volume, que versa sobre um perigoso jogo de tênis que pode definir o destino do mundo. Sim, você não leu errado. O fado do planeta está nas mãos completamente inábeis de um jogador amador de tênis e de seu parceiro, num jogo de duplas que acontece, como não podia deixar de ser, em Roma. Os adversários? Dois alienígenas enviados à Terra para decidir a sorte da humanidade contra dois humanos aleatórios. No caso, dois italianos: Bruno e Remo. O jogo é disputado à moda antiga de Wimbledon, ou seja, com sets sem tie-break, decididos com a diferença de dois games mínimos entre cada dupla para se definir um set, num total máximo de cinco sets a serem jogados.
O livro começa com uma conversa entre Bruno e Remo, já na quadra, se aquecendo contra os tais alienígenas. Sim, ação imediata. Parece bom, as primeiras vinte páginas realmente me atraíram, mais pelo assunto inusitado do que pelo estilo do autor, insosso e sem qualquer talento, inclusive com palavras grafadas erroneamente em italiano (que, certamente, não são propositais). O problema maior, no entanto, é que as mais de 400 páginas do volume descrevem, com uma riqueza irritante de detalhes, o jogo e apenas o jogo. Não se tem qualquer informação mundial sobre uma invasão, naves, jugo alienígena, nem mesmo detalhes sobre o público que está acompanhando o jogo. Não se fala nem mesmo se a disputa está sendo transmitida para o mundo em rede global. Nada, apenas e tão somente o jogo, com detalhes obsessivos e, de certo modo, cruéis.
Mas o livro, exaustivo, foi vencido após muitos dias de tentativas. A dupla italiana, é claro, vence o match de forma heróica, no quinto set, após a disputa de 36 games. Há então um longo monólogo de Bruno, glorificando as virtudes do tênis em mais 20 páginas simplesmente dispensáveis. Não que este nobre esporte não mereça tamanha consideração, mas é fato que, numa narrativa que se pretenda interessante, isto é inusitado e poucas vezes funcional. Aliás, torna-se óbvio, pela paixão do discurso e do livro, que Bruno nada mais é do que o próprio Adamo Giacomelli, certamene um jogador (ruim, mas apaixonado) de tênis, provavelmente amador.
Ah, o motivo deste livro, bem impresso e patrocinado por um supermercado, ter o nome que tem? Deve ser porque, após todas as páginas e o discurso da vitória, o livro termine com a singela frase que agora transcrevo: "Ma gli stranieri, la gelosia!, hanno deciso esplodere l'intero pianeta". Assim mesmo, errado assim, ruim assim. Em uma linha apenas, numa frase simplesmente péssima, o autor dá a grande prova para o leitor de que este foi ludibriado com um livro péssimo. E quem lê aprende isso do pior modo, pois, ao final, a vitória já é mesmo de Adamo.